quarta-feira, 18 de março de 2009

A paz é fruto de justiça (Isaias 32, 17)

O tempo da Quaresma tem início na Quarta Feira de Cinzas e nos convida à conversão e correção dos defeitos de nossa vida quotidiana. A CF 2009 nos traz um desafio que diz respeito a todos que tem o uso da razão: contribuir ativamente para construir um mundo de paz: das crianças aos mais idosos.Todos se queixam da falta de segurança: assaltos, roubos, violências, trânsito violento, assassinatos, estupros, maus tratos no relacionamento público e até doméstico. É certo que muitos atos violentos não são levados ao conhecimento dos policiais nem dos noticiários jornalísticos. Nossa sociedade se torna cada vez mais insegura, e a convivência entre as pessoas é cada vez mais difícil e delicada.Torna-se necessário um ponto de referência eficaz, capaz de garantir a verdade, e construção de uma sociedade mais justa e solidária, e conseqüentemente mais segura: assumir as atitudes e opções de Jesus.Todos devem assumir juntos a busca da paz e da concórdia, autênticos dons de Deus, mas frutos também de nossa co-responsabilidade.Não se pode ser simplista: aumentar o policiamento, construir mais presídios. Está em jogo a educação de cada cidadão, hoje e ao longo de sua vida, para ter as bases da ação eficaz, sem o que nada se alcançará. A educação não se define e se alcança necessariamente pela punição dos faltosos.Para que o objetivo geral da C.F. 2009 seja alcançado, são propostos objetivos específicos:. Desenvolver nas pessoas a capacidade de reconhecer a violência na sua realidade pessoal e social, a fim de que possam se sensibilizar e se mobilizar, assumindo sua responsabilidade pessoal no que diz respeito ao problema da violência e à promoção da cultura da paz.. Denunciar a gravidade dos crimes contra a ética, a economia e as gestões públicas, assim como a injustiça presente nos institutos da prisão especial, do foro privilegiado e da imunidade parlamentar para crimes comuns.. Fortalecer a ação educativa e evangelizadora, objetivando a construção da cultura da paz, a conscientização sobre a negação de direitos como causa da violência e o rompimento com as visões de guerra, as quais escolhem a violência como solução para a violência.. Denunciar a predominância do modelo punitivo presente no sistema penal brasileiro, expressão de mera vingança, a fim de incorporar ações educativas, penas alternativas e fóruns de mediação de conflitos e a aplicação da justiça restaurativa.. Favorecer a criação e a articulação de redes sociais populares e de políticas com vistas à superação da violência e de suas causas e à difusão da cultura da paz.. Desenvolver ações que visem à superação das causas e dos fatores de insegurança.. Apoiar as políticas governamentais valorizadas dos direitos humanos.. Despertar o agir solidário para com as vítimas da violência.A questão da violência deve ser analisada a fundo. É comum quando se fala em violência, que se tenha em mente a violência da criminalidade. Porém é preciso atinar para o fato de que, da mesma forma que podemos sofrer a violência, podemos ser agentes ou causadores dela. Cristo é a nossa paz. Jesus disse: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é à maneira do mundo que eu a dou. Não se perturbe, nem se atemorize o vosso coração” (João 14,7). Ele dá a todos a paz porque ele se dá por todos, a fim de que a reconciliação aconteça e a paz possa ser verdadeira. É ele que ilumina e dirige os passos de todos no caminho da paz (cf. Lucas 1,79), que traz a paz aos homens de boa vontade (2,14), e é reconhecido como enviado por Deus para trazer a paz (19,38). Na entrega generosa de Jesus pelo mundo, a paz encontra o seu fundamento e a sua possibilidade de tornar-se real. A paz é obra da justiça, supõe a instauração de uma ordem justa que possibilite a realização humana e permita que todas as pessoas sejam sujeitos da própria história. Onde não existem essas condições, existe o atentado contra a paz. Toda a opressão é germe da rebelião, da violência e de insegurança.As parábolas da misericórdia mostram que a justiça ensina a superação e não a condenação (Lucas).É no seio da família que o ser humano aprende a ser “verdadeiramente humano”.

Autor: Cardeal Geraldo Majella Agnelo

Fonte: http://www.cnbb.org.br/

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